O clarão do candeeiro ilumina uma noite que nem um isqueiro, e as duas da manhã são anunciados por um cuco, inteiro com anos e passos de uma vida e de outra, as que já se foram e as que se escrevem num futuro incerto.
Passeio entre quartos e recantos de uma casa que me segue, vive comigo um fado já por si caótico, numa pequena gaveta escondem-se folhas e quadrados de um tempo, onde eu crescia em sabedoria com o mundo, nele estão versos quase perfeitos, que me fazem recordar o quão pecaminoso era o nosso amor.
Aqui, entre linhas e rimas, delicio-me aos poucos, releio o que a minha mente em tempos desejou, onde a tua companhia preenchia o meu céu, quando os beijos seriam servos de um calor promissor, vindo de estranhas mas claras palavras, aquelas que eu queria ouvir e com elas sentia o mais forte os sentimentos por breves momentos de fantasia.
Com giz e alegria manchados no meu rosto, que lia livros formulados de definições, fórmulas e resoluções, contudo via rostos e monstros, que destruíam aos poucos a minha auto-estima, atacada por risos vazios e insultos vindos das mentes mais criminosas para com o acto da palavra liberdade, foram altos e baixos de uma altura em que nem tudo era tão certo como hoje, muito menos perfeito, mas bastava-me um momento contigo e os mais infinitos e obcecáveis problemas iam ao infernos, cada vez que me afundava no teu olhar.
Lembras-me o mar em dias no qual me senti livre de todos os preconceitos e medos, os mesmos que hoje tendem a rodear a minha vida, ainda me lembro de me perder num beco, escuro e feito de madeira, com uma faca apoderando breves segundos de bravura, na qual usava para te apunhalar o peito de desejos e receios, que ficaram mortos neste livro de recordações e balões dos raros momentos, em que o violino se distinguia da orquestra de teclas e sopros, cordas e bombos, que ao redor do meu mundo tentavam fazer o som perfeito.